quinta-feira, 15 de março de 2012

A descoberta


      Como todos sabem, a vida de um transexual não é nada fácil, matamos um leão por dia para nos proteger das mazelas sociais, a qual nos incluímos. Mais infelizmente, não escolhemos o que seremos ao decorrer de nossas vidas. Não sabemos se o meio em que convivemos nos afeta, se o convivio ou ausência de uma figura paterna, problemas ligados a má formação congênita ou mesmos abusos sofridos na infância nos influenciam, a única certeza é que nada foi comprovado até o exato momento. Talvez tudo isto não passe mesmo de uma ironia do destino, porque ele sim tem respostas para tudo.

      E, não muito diferente de outras transexuais, também passei e tive influências de alguns desses aspectos citados por mim acima.  Hoje, não procuro respostas ao que me acomete, alias seria como tratar uma doença, e pelo que me é intrisico, tenho a convicção de que isto não seja uma doença, embora seja uma das mazelas da vida codiana de muitas mulheres, que passam despercebidas pelos seus familiares, da escola e da sociedade em geral.

      Na minha infância, pelo que me lembro, foi a melhor infância que pude ter. Vivia num mundo de fantasias, sem maldades e sem me preocupar com o que comer no dia seguinte, isto tudo se deu graças a minha mãe, que me ensinou tudo o que as estórias tinham de magnifico e mágico. Não digo que fui um infante comum as outras crianças, mais me considerava normal, ou ao menos pensava, não fazia ideia de como o mundo era na realidade, claro, muita coisa mudou desde daquela época. Sempre fui extrorvetido, alegre e comunicativo, e não tinha ideai do que eu era realmente, mais tinha uma leve certeza de que eu era um menino, mesmo não portando muitas das vezes como um. Adorava as brincadeiras com minha irmã, com quem sempre fui muito apegado, sempre esperava ela ir para escola para correr e brincar com suas bonecas. Já com meu irmão era bem diferente, as suas brincadeiras eram sempre com carros, desenhos, futebol, enfim coisas de menino, e eu como toda mulher que não foge a regra, detestava. Mais tudo o que fiz nesta fase foi com a mais pura inocência, e confesso que adorava.

     Minha mãe, meus irmãos e eu eramos Testeminhas De Jeová, então convivi maior parte da minha vida dentro daquela organização. Quero deixar bem claro que não estou aqui para falar mal dela e muito menos deferir palavras inveridicas. Pelo contrário, tive uma educação maravilhosa lá dentro e que de certa forma me protegeu de muitos malefícios desde mundo, como doenças sexualmente transmissíveis. Mais como nada é perfeito, se mantinha uma rigidez e tradição, tudo a base da palavra da bíblia, e como um rapaz, com características femininas poderia servir a dois deuses, já que quem nasce homem, é condenado a viver assim até o final de sua vida. Este foi um dos motivos pelo qual deixei a  religião, mais o que culcuminou meu afastamento, foi quando eu descobri que não poderia ter alguns cargos, devido a minha situação.
   
     Na fase escolar, foi um problema, confesso que não gosta muito de me lembrar do que aconteceu. Você não se enquadra em grupo algum, tem vergonha do seu próprio corpo em transformação, e quando se da conta, não aceita as mudanças repentinas e rápidas. Foi nessa época que tive, uma leve sensação de não pertencer aquele corpo, mais sempre guardava esse sentimento comigo, tinha muito medo das reações das pessoas, inclusive da minha mãe, familiares e alguns amigos. A escola, não te vê, os amigos não sabem o que acontece e seus familiares muita das vezes sabem, mais preferem o silêncio. Quando crie coragem para contar a alguém, fui mau compreendida e perdi um amigo, alias um grande amigo. Não foi nada fácil ver alguém que você ama, ir embora e ao mesmo tempo tão perto. Em meus pensamentos para não magoar mais ninguém, simplesmente me ignorei, e resolvi viver a vida como se deve, "homem é homem e mulher é mulher".

    Quando a culpa finalmente me deixou e pela primeira vez tive esse sentimento tão aflorado, algo novo aconteceu, as "dificuldades que a vida nos impõe". Minha mãe nos criou sozinha sem a presensa de um pai, e quando tive a oportunidade de conseguir um emprego, tive que me comportar como homem, raspei o cabelo e fui a luta. Mais uma vez eu deixava de ser eu e de buscar minha veradeira identidade. Tenho certeza de que o trecho desta história é igual para muitas transexuais.  O tempo passou, eu fui crescendo cada vez mais, aguçando minhas percepções de mundo, e assim foi até os dias de hoje. Quando finalmente criei coragem e tentei expor o que acontecia comigo para minha mãe, ela a princípio não quis comentar, somente ficou calma e passiva, me ouvindo as sinceras palavras. Disse que não suportava mais viver uma mentira só para fazer outras pessoas felizes e que o ambiente de trabalho que eu me encontrava estava insuportável, não aguentaria um dia a mais. Bom ela não disse nada, apenas me pediu que aguenta-se mais um pouca. até que as coisas em nossa casa se ajeitassem, mais acabei sedendo e sai desde emprego onde eu era menor aprendiz meses depois. Porém em recompensa, retirei um peso de minhas costas, e fui para um cursinho de pré-vestibular. Já que o mundo me virou as costas, tinha que correr atrás, do meu lugar ao sol, do meu destino, e é assim que me torneie a primeira pessoa de nossa família a frequentar o meu acadêmico, e com muito orgulho de mim que consegui uma bolsa de estudos cedida pelo governo, do  Programa Universidade Para Todos.

   Mais a minha história não para por aqui, ela simplesmente recomeça e se reconstrói, se renova, se transforma. Quando pedi ajuda para enfrentar este problema,  nem minha mãe e mais ninguém soube me orientar, mais não os culpo, em minha cidade não havia atendimento especializado para esta área em especifico. E só agora depois destes longos anos é que tive contato com este mundo e percebi que eu não era a única. O primeiro passo para minha transformação seria a independencia, somente ela me possibilitou de fazer o que eu mais almejava. E aqui estou hoje.

2 comentários:

  1. oi amor!
    me recordo bem de quase todas as suas fazes... e digo no dia de hoje que me orgulho de você! verdade, por que você acima de tudo teve a capacidade de demonstrar quem você é por dentro sem se preocupar com o que os outros pensariam de você...exatamente como era antigamente; hoje mais do que nunca te digo, eu te amo! sua eterna amiga Nelcy Hellen

    ResponderExcluir
  2. Casino Site 2021 | Lucky Club Live
    Looking for the Best Online Casinos in USA? Read our review luckyclub.live of the top USA Casinos, Get Exclusive Offers & No Deposit Bonuses. Read here to find out!

    ResponderExcluir