terça-feira, 27 de novembro de 2012

Video referente ao 8° Mês de TH

 
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Gente video novo da minha transição, referente ao 8° mes de TH! Até mais....



sábado, 10 de novembro de 2012

8° Mês de Terapia Hormonal

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Olá depois de um bom tempo sem postar, estou eu aqui novamente. Queria mostrar algumas fotos mais recentes desta minha caminhada.

Como podem notar as mudanças mais profundas são no rosto, porém, no corpo ainda estão um pouco lentas, mais foi um grande salto.

Minha Dieta Hormonal:

- 6 mg de 17-b estradiol (fracionados);
- 2 doses de dissipador de hormônio 17-b estradiol em gel;
- 5 mg de medroxiprogesterona nos 10 primeiros dias de cada mês;
- 50 mg de acetato de ciproterona, fracionados (duas vezes ao dia).










domingo, 1 de abril de 2012

1° Mês de Terapia Hormonal TMF

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olá boa noite a todos, e que bom estar de volta com todos vocês novamente.  Bem, como prometido estou aqui para relatar todas as minhas experincias na minha transformação, já que estou decidida a ser o que sou, e não quero viver um dia a mais como Gabriel Teodoro.

No primeiro mês não houve tantas mudanças ou melhor quase nada, porém:

Esse são os medicamento que uso:

 - Espirolactona 100mg, que abaixou minha pressão e tive alguns epsódios de tontura, mais isso começou apartir do 15°, mais depois sintomas sumiram;

- Sinto um pouco cansada, e com dores que eu não tinha antes na musculatura, talvez fraqueza;

- Meus seios só estão um pouco doloridos e um pouco sensiveis, mais só quando a roupa é justa demais e me deito, porém teve um leve aumento, mais nada exagerado;

- Tive alguns epsódios de dores de cabeça, mais que já passaram, talvez tenha sido a espirolactona.

-Meus cabelos cresceram muito bem, até asustei, talvez seja efeito da finasterida de 2 mg que uso;

- e por último, estou um pouco extresada e fico deprimida boa parte do tempo, talvez pela minha espectativas...faculdades..emprego ...essas coisas.


Bom essas foam minha observações! Até mais...

A desumanização camuflada

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Trabalhadoras transexuais em destaque Por Jaqueline Gomes de Jesus em 13/03/2012 na edição 685

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Muito bom, vale a pena ver!


Entre discussões infantis sobre o que é ser mulher e depoimentos naturalizantes, que defendem a formatação dos corpos, disfarçados de elogio, grande parte da mídia aproveitou o Dia Internacional da(s) Mulher(es) para tratar dos desafios das mulheres que vivenciam a transexualidade, mesmo que de forma limitada.
Ao longo dos últimos anos, o tema tem sido mais abordado, mesmo que com base em muita desinformação e com enfoque em aspectos “curiosos”, voltados apenas a procedimentos cirúrgicos ou dificuldades relativas ao registro civil, como se fossem o único elemento importante na vida de pessoas transexuais de ambos os gêneros, desconsiderando a sua diversidade de vivências como seres humanos – em casa, na rua, no trabalho.
As mulheres sempre participaram do mundo do trabalho: subalternizadas, mas estavam lá. A partir das novas ideias e comportamentos trazidos com o movimento feminista e a liberação sexual, a percepção sobre quem são as mulheres se ampliou, deixou de apenas se remeter à mulher branca, abastada, casada, com filhos, e passou a acatar a humanidade e a feminilidade de mulheres outrora invisíveis: negras, indígenas, pobres, com necessidades especiais, idosas, lésbicas, bissexuais, solteiras etc. e, recentemente, transexuais.
Revolução silenciosa
Entretanto, ainda hoje, no século 21, as mulheres transexuais sofrem para terem garantido o direito à identidade, a serem reconhecidas social e legalmente pelo gênero com que se identificam e querem ser identificadas. Jovens desistem de estudar em escolas onde são agredidas diariamente, quando não são expulsas. Desprezadas por suas famílias, são novamente violentadas e igualmente expulsas. Apesar de tanta dor e exclusão, elas perseveram por causa da felicidade íntima que sentem por serem quem são, amam e são amadas por alguns, formam famílias.
A vida corporativa reflete a discriminação a que são submetidas na sociedade. Mesmo que se tornem adultas qualificadas, veem restringidas suas oportunidades de trabalho: permitem-lhes ser cabeleireiras, costureiras, artistas ou prostitutas. Nada mais. A sociedade que despreza essas mulheres é a mesma que as explora, de maneira hipócrita, financiando um mercado movimentado de pornografia e desumanização.
A empregabilidade das pessoas transexuais é um aspecto crucial para sua cidadania, porém esquecido pelo poder público. Entretanto, algumas dessas mulheres, em função de lutas individuais e reivindicações dos movimentos sociais, conseguem se destacar, ocupam outros espaços, sobrevivem para se tornarem símbolos, nesta e naquela organização, de uma mudança profunda neste país: o entendimento de que a identidade de gênero não é determinada por cromossomos, órgãos genitais, documentação ou cirurgias, ela é determinada pela forma como as pessoas se identificam, como se sentem e como preferem ser tratadas neste mundo. É uma revolução silenciosa.
A mídia tem muito a contribuir
Apesar de haver pessoas transexuais nos diferentes espaços sociais, políticos, técnicos ou acadêmicos, a visibilidade dessas pessoas nos meios de comunicação, é concentrada no aspecto marginal ou criminal vivido por uma parcela dessas, em função da discriminação que vivenciam, e pouco no seu cotidiano, como se não interessasse conhecer as demandas profundas de tais homens e mulheres.
Há muito por se fazer. A maioria dos ambientes de trabalho continua a obrigar mulheres transexuais a se vestirem, a se identificarem publicamente e a utilizarem banheiros que não correspondem a quem elas são. Desrespeito que se tenta justificar com normas e costumes autoritários. Felizmente, aumenta o número de locais de trabalho que entendem os direitos das pessoas e se tornam espaços de libertação para as pessoas transexuais.
Não é difícil e não envolve muitos custos porque no fim das contas as mulheres transexuais só pedem para serem vistas como seres humanos e tratadas como elas são: mulheres. E a mídia tem muito a contribuir nesse sentido: basta apresentá-las com respeito, como qualquer pessoa merece.
***
[Jaqueline Gomes de Jesus é psicóloga e doutora em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília]

Zagueira 'transexual' de Samoa Americana diz querer ajudar o país

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Ainda faltam cerca de 900 dias para a Copa do Mundo do Brasil, mas as eliminatórias já acontecem do outro lado do mundo e revelam histórias surpreendentes. É o caso, por exemplo, das ilhas do Pacífico, que brigavam pela chance de disputar com outros países da Oceania e, depois, com o quarto colocado de Caribe, América do Norte e Central uma única vaga no campeonato. Samoa, Samoa Americana, Ilhas Cook e Tonga jogaram entre si em busca da possibilidade de vir ao Brasil em 2014. Uma disputa marcada por histórias como a de Jahya. A zagueira de Samoa Americana é 'transexual', e conseguiu no campo o direito de defender a seleção masculina de seu país. Sem preconceitos. Saiba mais no vídeo acima do Jornal da Globo.

"Eu costumo dizer que já alcancei meus sonhos, mudando a história do futebol de Samoa Americana e ajudando outras pessoas que se sentem diferentes. Eu quero ajudar mais gente. Não apenas transexuais, mas todos que se sentem discriminados de alguma forma. Eles precisam ir à luta e alcançar sonhos" diz a zagueira.

Jahya já ajudou Samoa Americana a conseguir um feito histórico: sua primeira vitória em competições oficiais. É a pior seleção do mundo, segundo o ranking da Fifa, e que já sofreu a pior goleada da história do futebol: 31 a 0, contra a Austrália. Até as eliminatórias, Samoa Americana havia disputado 40 jogos, sendo derrotada em 38 partidas e empatado nas outras duas. Foram 292 gols contra, e apenas 21 a favor. A incrível marca durou até o duelo contra Tonga, vencido por 2 a 1.

"Nós conseguimos! Hoje nós fizemos história" comemorou um dos marcadores, Ramim Ott.

O sonho, no entanto, durou apenas até a última rodada. Com campanhas semelhantes (uma vitória e um empate), Samoa e Samoa Americana disputaram a vaga na segunda fase. E em um jogo que parecia se encaminhar para um empate sem gols, a classificação surgiu no último minuto. Diante das 345 pessoas que foram ao estádio Joseph Blatter, em Samoa, Malo marcou o gol da vitória e permitiu à seleção da casa continuar na disputa por uma vaga em 2014.

"Nem sei o que dizer. São lágrimas de felicidade. Nós vamos para a próxima fase das eliminatórias!" comemorou Faiuasso, craque da seleção de Samoa.

Jahya nasceu homem, mas de acordo com a cultura da polinésia pôde ser criado como mulher (a espécie de terceiro gênero é chamada de "fa'afafine"). Ou seja, não se caracterizou uma mudança de sexo, comum nos casos em que a nova identidade é adqurida.

mada de 'mulher' por técnico, transexual afirma: ‘A equipe me aceita’

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Johnny Saelua diz que companheiros da seleção de Samoa Americana o respeitam bastante e que ser 'fa'afafine' é um costume normal do país



  Depois de ajudar sua seleção a ganhar o primeiro jogo oficial da história, a zagueiro Johnny Saelua, de Samoa Americana, ganhou destaque na imprensa mundial. Não por ter feito gol na vitória por 2 a 1 sobre Tonga, pelas eliminatórias da Oceania para a Copa de 2014, na última quarta-feira, mas por se tratar de uma jogadora transexual.

"A equipe me aceitou, e nós mantemos respeito mútuo. É o máximo, faz parte da cultura" afirmou a zagueira ao "New York Times".

Johnny Saelua nasceu homem, mas de acordo com a cultura da Polinésia, ela pôde ser criada como mulher (que são chamadas de "fa'afafine"). Ou seja, não realizou a readequação de mudança de sexo.

O holandês Thomas Rongen, técnico de Samoa Americana, comentou sobre a atuação da jogadora de uma forma curiosa. Segundo ele, seu time jogou com "uma mulher como zagueiro". Além disso, fez questão de ressaltar a importância do assunto ser tratado como normalidade por todos, o que poderia ser diferente em outros paises.

"Na verdade, tivemos uma mulher atuando como zagueiro central. Você consegue imaginar isso na Inglaterra ou na Espanha?" comentou

.






Samoa Americana voltará a campo nesta quinta-feira, agora para enfrentar Ilhas Cook, a partir de 22h (de Brasilía).

Transexual mais alta do mundo quer disputar os Jogos Olímpicos do Rio

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Antes da redefinição sexual, Lindsey Walker era promessa da equipe masculina de basquete da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
 




Até os 21 anos, com 2,13m, ela era a estrela da equipe de basquete da Universidade de Michigan. Hoje, aos 26, a transexual é legalmente reconhecida como mulher há dois anos e, garante, não largou o esporte. Lindsey Walker, a transexual mais alto do mundo faz planos ousados: além da cirurgia de readequação sexual, no final deste ano, quer disputar os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, com a seleção de basquete feminino dos Estados Unidos.

Em entrevista ao jornal inglês “Daily Mail”, Lindsey contou que chegou a largar o time universitário enquanto passava pelos tratamento hormonal, mas garantiu que pretende voltar ao esporte e brigar por uma vaga na seleção feminina de basquete dos EUA. O objetivo maior é disputar os Jogos Olímpicos de 2016. Se conseguir o feito, Lindsey será a primeira transexual a participar de uma edição dos Jogos.

"Nunca quis parar de jogar basquete. Na verdade, eu só odiava estar me escondendo atrás do esporte e do estilo de vida de um atleta. Isso estava acabando comigo".

Antes do tratamento hormonal, a transexual era um dos mais populares alunos de sua turma na universidade, e era visto como promessa da equipe de Michigan. Mas apesar do sucesso, sentia que algo não estava certo.

"Um dia, eu surtei. Parei de jogar basquete, de treinar e de fazer academia no meio da temporada. Aos 21, cheguei ao fundo do posso. Passei a ter problemas emocionais e comecei a beber. Um dia, percebi o que deveria fazer. Comecei a vestir roupas de mulher e mais tarde a tomar hormônios femininos" revela.

Atualmente, Lindsey está sem clube. O primeiro passo antes do retorno às quadras serão as intervenções cirúrgicas e estéticas para que seu corpo fique mais feminino.

"Sei de outras pessoas que são como eu era, mas é difícil para gente muito alta se passar por mulher. Quero que essas garotas me vejam: tenho 2,13 m e não tenho medo de ser quem eu sou".

domingo, 25 de março de 2012

Saiba Mais: Direitos dos Transexuais

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No vídeo acima, assista a intersante entrevista da professora Suzana Viegas da Universidade de Brasília (UnB) sobre direito civil, onde a mesma esclarece dúvidas que respaldam os direitos dos transexuais. Esta é uma ótima entrevista e vale muito a pena ver na integra. Obrigada!

terça-feira, 20 de março de 2012

Transexualidade é abordada de modo correto em novela!

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Segue aqui uma participação de uma mulheres transexuais em a Novela Viver a vida, já exibida na emissora Globo. Entrevistas emocionantes e com  histórias iguais a de muitas mulheres como nós. Assistam!
 


 


 

Um shuffle de videos com entrevista abordando a transexualidade, com Lea T


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Assista abaixo a entrevista da modelo transexual Lea T, ela expõe de uma maneira bastante culta suas próprias percepções referente a transexualidade, vale muito a pena conferir.


Lea T no Programa de frente com Gabi, 1º parte.



Lea T no Programa de frente com Gabi, 2º parte. 


Lea T no Programa de frente com Gabi, 3º parte(final). 
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Este é um artigo científico de Leandro Colling, que diz respeito a um estudo de uma das problemáticas das décadas passadas e que ainda persistem em nossos dias, que é a normatização do que seria correto aos olhos da humanidade.
Espero que leiam o texto e tirem suas próprias conclusões, Obrigada mais uma vez!


TEORIA QUEER (Leandro Colling) 

A teoria queer começou a ser desenvolvida a partir do final dos anos 80 por uma 
série de pesquisadores e ativistas bastante diversificados, especialmente nos Estados 
Unidos. Um dos primeiros problemas é como traduzir o termo queer para a Língua 
Portuguesa. “Queer pode ser traduzido por estranho, talvez ridículo, excêntrico, raro, 
extraordinário”, diz Louro (2004, p. 38). A idéia dos teóricos foi a  de positivar esta 
conhecida forma pejorativa de insultar os homossexuais. Segundo Butler, apontada 
como uma das precursoras de teoria queer, o termo tem operado uma prática lingüística 
com o propósito de degradar os sujeitos aos quais se refere. “Queer adquire todo o seu 
poder precisamente através da invocação reiterada que o relaciona com acusações, 
patologias e insultos” (Butler, 2002, p. 58). Por isso, a proposta é  dar um novo 
significado ao termo, passando a entender queer como uma prática  de vida que se 
coloca contra as normas socialmente aceitas.  

Neste sentido, um dos maiores esforços reside na crítica ao que se convencionou 
chamar de heteronormatividade homofóbica, defendida por aqueles que vêem o modelo 
heterossexual como o único correto e saudável. Por isso, os primeiros trabalhos dos 
teóricos queer apontam que este modelo foi construído para normatizar as relações 
sexuais. Assim, os pesquisadores e ativistas pretendem desconstruir o argumento de que 
sexualidade segue um curso natural. “Os estudos queer atacam uma repronarratividade e 
uma reproideologia, bases de uma heteronormatividade homofóbica, ao  naturalizar a 
associação entre heterossexualidade e reprodução” (Lopes, 2002, p. 24). 
O maior esforço de Butler, por exemplo, dentro dos estudos queer, foi o 
desenvolvimento do que ela nomeou de teoria da performatividade. “O  gênero é 
performativo porque é resultante de um regime que regula as diferenças de gênero. 
Neste regime os gêneros se dividem e se hierarquizam de forma coercitiva” (Butler, 
2002, p. 64). De uma forma resumida e incompleta, podemos dizer que  a teoria da 
performatividade tenta entender como a repetição das normas, muitas vezes feita de 
forma ritualizada, cria sujeitos que são o resultado destas repetições. Assim, quem ousa 
se comportar fora destas normas que, quase sempre, encarnam determinados ideais de 
masculinidade e feminilidade ligados com uma união heterossexual, acaba sofrendo 
sérias conseqüências.   Apesar de unidos em uma série de aspectos, movimentos gays e teóricos queer 
nem sempre pensam da mesma maneira. Uma das tensões é a estratégia, adotada por 
muitos ativistas, de tentar demonstrar que os homossexuais são iguais aos 
heterossexuais, ou seja, de que todos são “normais”.  Para Gamson, a política queer 
adota uma postura de não assimilação e se opõe aos objetivos inclusivos do movimento 
por direitos humanos gays dominante. “A política queer (...) adota a etiqueta da 
perversidade e faz uso da mesma para destacar a ‘norma’ daquilo que é ‘normal’, seja 
heterossexual ou homossexual. Queer não é tanto se rebelar contra a condição marginal, 
mas desfrutá-la” (Gamson, 2002, p. 151). 

De alguma forma, esta tensão entre política queer e movimento gay fica visível 
na forma como os ativistas gays reagem a determinados personagens homossexuais nas 
telenovelas brasileiras. Em várias ocasiões, por exemplo, o Grupo Gay da Bahia (GGB) 
ameaçou processar os autores e a própria emissora em função da existência de 
personagens homossexuais afeminados e/ou caricatos. Em outras ocasiões, teceu elogios 
quando os personagens “pareciam normais”, sem afetações.  
Entre os estudos queer, outro conceito importante é o de camp. Em seu clássico 
ensaio, Sontag oferece várias definições para esta expressão que ela considera 
“esotérica”. Para ela, falar de camp é falar de sensibilidade, o que é “uma das coisas 
mais difíceis” de serem realizadas. “Na realidade, a essência do camp é a sua predileção 
pelo inatural: pelo artifício e pelo exagero” (SONTAG, 1987, p. 318). A androgenia é 
considerada por Sontag como uma das grandes imagens da sensibilidade. “Camp é 
também uma qualidade que pode ser encontrada nos objetos e no comportamento das 
pessoas. Há filmes, roupas, móveis, canções populares, romances, pessoas, edifícios 
campy... Essa distinção é importante. É verdade que o gosto camp tem o poder de 
transformar a experiência. Mas nem tudo pode ser visto como camp. Nem tudo está nos 
olhos de quem vê” (Sontag, 1987, p. 320). 

Lopes diz que, como comportamento, “o camp pode ser comparado com a 
fechação, a atitude exagerada de certos homossexuais, ou simplesmente à afetação. Já 
como questão estética, o camp estaria mais na esfera do brega assumido, sem culpas” 
(2002, p. 95).  

Um cuidado conceitual a tomar é o de não associar diretamente o gay ao queer 
ou ao camp. “Ser gay é ter uma simples identidade; ser queer é entrar e celebrar o espaço lúdico de uma indeterminação textual” (Morton, 2002, p. 121). Apesar do rigor 
conceitual, a teoria queer pretende mais é provocar o estranhamento nas próprias formas 
de pensar, inclusive as acadêmicas e, talvez por isso, este texto seja muito pouco ou 
nada queer.  Como diz Ed Coheh (apud Morton, 2002, p. 118), o slogan dos teóricos 
queer deveria ser: “fodemos com categorias”.  

Referências Bibliográficas: 
BUTLER, Judith. Críticamente subversiva. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida. 
Sexualidades transgresoras. Una antología de estudios queer. Barcelona: Icária 
editorial, 2002, p. 55 a 81.   
GAMSON, Joshua. Deben autodestruirse los movimientos identitarios? Un extraño 
dilema. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida. Sexualidades transgresoras. Una antología 
de estudios queer. Barcelona: Icária editorial, 2002, p. 141 a 172.  
LOPES, Denílson.  O homem que amava rapazes e outros ensaios. Rio de Janeiro: 
Aeroplano, 2002. 
LOURO, Guacira Lopes. O corpo estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. 
Belo Horizonte: Autêntica, 2004.  
MORTON, Donald. El nacimiento de lo ciberqueer. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida. 
Sexualidades transgresoras. Una antología de estudios queer. Barcelona: Icária 
editorial, 2002, p. 111 a 140. 
SONTAG, Susan. Notas sobre o Camp. In: Contra a interpretação. Porto Alegre: LPM, 
1987, p. 318 a 337. 

Transexualidade - Uma Entrevista Com a Mestre e Doutora Em Sociologia, Berenice Bento

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Berenice Bento é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás, mestre e doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília. Atualmente, é professora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde pesquisa a relação entre os seguintes temas: direitos humanos, transexualidade, gênero e teoria queer. É autora de O que é transexualidade (São Paulo: Brasiliense - Coleção Primeiros Passos, 2008) e A (re) invenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual (Rio de Janeiro: Garamond, 2006). 

Gênero e estrutura biológica não definem o que somos e o que queremos ser. Essa é uma das questões centrais do discurso da professora Berenice Bento durante a entrevista que concedeu, por telefone, à IHU On-Line. Para ela, “discutir gênero é transitar por um conjunto de teorias e de concepções e explicações sobre o que é ser masculino e feminino”. Sua filiação teórica está ligada aos estudos queer e, por isso, ela defende que gênero não tem nada a ver com a estrutura biológica. “Discutir transexualidade nos remete a discutir identidade de gênero deslocada da biologia porque são pessoas que têm todas as genitálias normais, toda a estrutura biológica, cromossomos absolutamente normais e, no entanto, não se reconhecem no corpo. E, nesse sentido, a genitália é apenas uma das partes do corpo”, explica. 


A entrevista é um pouco extensa, porém vale muito a pena conferir e aumentar seus conhecimentos sobre as nossas vidas sociais.

Segue a entrevista abaixo:

IHU On-Line – Como o significado do gênero se articula com o corpo?

Berenice Bento – Discutir gênero é transitar por um conjunto de teorias e de concepções e explicações sobre o que é ser masculino e feminino. Eu tenho uma filiação teórica que é vinculada aos estudos queer que fala que o gênero, a masculinidade e a feminilidade não têm nada a ver com a estrutura biológica. Portanto, não tem a ver com a presença ou ausência de determinadas genitálias, determinadas características sexuais secundárias. Gênero está relacionado à performance, à prática e ao reconhecimento social. Para que eu seja reconhecida socialmente como uma mulher, preciso desempenhar um conjunto de práticas, de performances que possibilitam esse reconhecimento. Neste sentido, a roupa que eu uso, o jeito que posiciono minha mão, a maneira como cruzo as pernas, são esses indicadores e visibilidades de gênero que fazem o gênero. Não existe gênero em uma estrutura corpórea, existe na prática. Nós fazemos gênero no dia a dia.

IHU On-Line – Como pode ser descrito o dispositivo da transexualidade?

Berenice Bento – Esse conceito de transexualidade abordado no meu livro A reinvenção do corpo, foi produzido a partir da minha tese de doutorado. Nele, obviamente, dialoguei com Michel Foucault, autor que trabalha a ideia de um dispositivo da sexualidade que significa mecanismos discursivos que produzem a verdade sobre o que é ser transexual. Sobre o que é esse dispositivo da transexualidade, localizo dois tipos de discursos: o da psicanálise e, principalmente, o da endocrinologia, que trabalha a questão dos hormônios. Esses dois discursos vão dizer que uma pessoa transexual é aquela que odeia sua genitália e demanda desesperadamente uma cirurgia de transgenitação como condição para desempenhar com sucesso a sua heterossexualidade.

Eu defendo que a transexualidade não tem absolutamente nada a ver com a sexualidade.  Algumas pessoas transexuais querem fazer a cirurgia, outras não querem. Mas existe uma questão central que unifica o discurso das pessoas transexuais: a luta pelo reconhecimento e pela mudança dos documentos. Muitas pessoas dizem que a genitália não é o problema, o problema é quando não tenho os documentos que me reconheçam, por exemplo, a Roberta Close tinha que mostrar, por muito tempo, um documento que dizia que ela era Roberto Grambini. As pessoas não entendiam. Roberta Close tinha que ficar explicando que o documento estava incorreto.

Cada pessoa transexual vai vivenciar a sua sexualidade de formas muito diferentes, todas as pessoas transexuais não são heterossexuais, não são bissexuais, gays ou lésbicas. Existe uma pluralidade de vivências da sexualidade na transexualidade, existe uma luta pelo reconhecimento de um outro gênero. Discutir transexualidade nos remete a discutir a identidade de gênero deslocada da biologia, porque são pessoas que têm todas as genitálias normais, toda a estrutura biológica, cromossomos absolutamente normais e, no entanto, não se reconhecem no corpo. E, nesse sentido, a genitália é apenas uma das partes do corpo. Muitos mudam o corpo, colocam silicone, fazem aplicação a laser para tirar as marcas da barba, deixam o cabelo crescer, se constitui e produz as expressões do gênero feminino, luta socialmente para ser reconhecida como mulher. Então, o dispositivo da transexualidade, que produz uma única explicação para o ser, para viver a transexualidade na pesquisa que eu fiz, não encontra nenhum tipo de respaldo.

IHU On-Line – A senhora fala que “todos já nascemos cirurgiados”. O que isso significa?

Berenice Bento – Quando você nasce já existe um conjunto de expectativas para um corpo que está na barriga da mulher, inclusive a grande expectativa em torno do sexo. Você vê aquelas máquinas passando lá (ultrassom) e os médicos dizem coisas como “é uma bebê”. No momento em que o médico diz as “palavras mágicas”, é como se tivesse o dom de criar a criança. Aquela frase “parabéns mamãe você vai ter uma menina”, “parabéns mamãe você vai ter um menino”, desencadeia um conjunto de expectativas materializadas em cores e brinquedos. Quando essa criança nasce, ela não é um corpo, uma natureza, um conjunto de células, mas sim um corpo generificado, cirurgiado no sentido de que já há uma cultura de expectativas por aquele corpo, ele não está livre dos imperativos.

A criança, quando nasce, se tem uma vagina, vai usar a cor rosa, vai ter um conjunto de imperativos apontando como a criança deve se comportar. Então, você tem uma produção em série de brinquedos, discursos, religiões sobre uma feminilidade ou uma masculinidade inteligível. É uma cirurgia discursiva, porque o médico que diz “você tem uma menina”, está escrevendo uma gramática de gênero, em um léxico social que já está fadado. O que eu afirmo é que não tem nada a ver com biologia ou natureza. Como é possível alguém falar de biologia quando nós pensamos em todos ensinamentos, toda a repressão, todos os dispositivos, todas as instituições dizendo o que é de menina e o que é de menino? Se fosse da ordem da natureza, não precisaria disto. Eu nasceria e iria crescer e eleger naturalmente. Porém, eu não elejo, eu sou eleita.

IHU On-Line – Qual é o sentido em se falar de sexo feminino e masculino quando já se fala no transgênero?

Berenice Bento – O transgênero, a transexualidade, a transvestilidade, drag queens, são expressões de gênero que disputam com a concepção hegemônica. Na verdade, o que você tem hegemonicamente é aquela ideia de uma continuidade. Você tem uma vagina, logo você é mulher, logo você é feminina e é óbvio que você é heterossexual. Você tem um pênis, logo é homem, é masculino e logo é heterossexual. É esta a estrutura hegemônica do gênero que é problemática. O tempo inteiro nós estamos vendo expressões de gênero, vivências de gênero que explodem essa coisa retilínea com uma correspondência entre desejo e genitália afetada na heterossexualidade. Tanto as ciências quanto a religião, hegemonicamente falando, ainda trabalham com essa ideia de binarismo e tudo que foge disto é da ordem do anormal, do pecaminoso, do não inteligível, do que não tem nome.

IHU On-Line – E como a senhora vê a experiência do Processo Transexualizador, instituído pelo Sistema Único de Saúde - SUS?

Berenice Bento – Foi uma luta longa dos movimentos sociais, incluindo teóricos, ativistas, que reivindicavam que o SUS pagasse essa a cirurgia, porque é uma cirurgia que para algumas pessoas é essencial. A cirurgia é financiada, mas a questão da autonomia do sujeito não é discutida. Ainda hoje as pessoas que queiram fazer essa cirurgia precisem se submeter a protocolos, quando entram para fazer a cirurgia, já estão em desvantagem. Chamo de cidadania cirúrgica ou cidadania precária, porque ele tem que estar durante dois ou três anos se submetendo a burocracias de sessões de psicologia, exames rotineiros para, ao final deste processo, saber se aquilo que ele quer ele só pode fazer se tiver um laudo de transexualidade. Sem dúvida, isso é importante, mas a cirurgia tem que vir como um reconhecimento pleno da condição de sujeito das pessoas transexuais de decidir sobre as alterações corporais de seu corpo.

IHU On-Line – A partir disso, como a senhora avalia a relação entre a transexualidade e a bioética?

Berenice Bento – A questão da ética da vida, pensando os discursos que produzem sentido para a vida sobre os quais a bioética se debruça, é o respeito à autonomia do sujeito. Precisamos pensar no que significam as dores do sujeito, seu sofrimento. Eles têm capacidade de decidir sobre o que querem sobre seus corpos e suas vidas. Eles não precisam ser tutelados pelo Estado. É preciso mudar o foco de uma concepção autoritária, pois hoje o transexual precisa de autorização de toda uma equipe médica e o processo é bastante complicado, e depois disso ele pode fazer a cirurgia. É preciso ter foco na condição plena desse sujeito. Além disso, no Brasil ainda se exige que, para se alterar o documento, é preciso fazer a cirurgia. Isso é absurdo. Porque mesmo com a cirurgia, se leva anos para conseguir mudar os documentos. Em outros países os processos são desvinculados um do outro. Com um parecer de que você é transexual, pode-se ir a qualquer cartório e modificar seu nome e, assim, você passa a viver com todos os direitos e deveres do outro gênero.



Muito obrigada pela atenção novamente.






domingo, 18 de março de 2012

Transexual com direito de ter nome social em MG quer mudar RG e CPF

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Ter o nome social reconhecido nos diários de ensino e no local de trabalho parece ser algo simples, mas é motivo de luta para os transexuais. Em Minas Gerais uma lei estadual ajudou a resolver essa questão e, em nível estadual, já é possível ter o nome alterado em documentos como a carteira do Sistema Único de Saúde (SUS). Agora, a professora de Uberlândia, Sayonara Nogueira, de 37 anos, batalha na justiça pelo direito da mudança em documentos como RG e CPF.
Sayonara Nogueira foi a primeira pessoa na cidade a requerer a mudança para o nome social,  o nome feminino adotado pelos transexuais, em Minas Gerais. Há quase um mês ela já assina o diário escolar e o caderno de ponto com o nome social e não o seu nome civil, Marcos Nogueira. “A mudança foi positiva. Antes ficava escondendo a parte onde aparecia meu nome no diário escolar porque algumas pessoas não entendiam ao ver o meu nome civil na pasta. Agora já não preciso mais fazer isso, meu nome está correto lá”, disse.
O pedido de mudança foi possível por meio de um pacote de ações contra preconceito a gays, criado pelo governador de Minas, Antonio Augusto Anastasia. A resolução 8.496 assegura às pessoas transexuais e travestis a identificação pelo nome social em comunicações internas do poder Executivo. Isso significa que nos documentos do Estado, como a carteirinha do SUS e em contas de serviços estaduais, a professora irá assinar como o nome social, Sayonara Nogueira e não o com o nome civil.
Professora de Geografia e História nas Escolas Estaduais Presidente Tancredo Neves e Ignácio Paes Leme, Sayonara disse que já sofreu humilhação de uma colega de trabalho. “Os alunos sempre me respeitaram, mas uma inspetora insistia em usar meu nome de registro, o que me causava constrangimento. Acredito que essa conquista deva incentivar posturas semelhantes em outros estados brasileiros”, argumentou.
E agora a professora batalha na justiça pelo direito da mudança em documentos como RG e CPF. “Essa outra mudança estou batalhando na justiça. Mas sei que a batalha é longa, pois a documentação é de âmbito nacional e a justiça é lenta nesses casos. Ainda existe muito preconceito”, comentou.
O uso do nome adotado pelas travestis e transexuais em Minas Gerais deve ser prioridade também em órgãos públicos estaduais como hospitais e delegacias. Esses locais devem disponibilizar um formulário de atendimento e o campo ‘nome social’ deve estar precedido. Uma proposta de modelo está sendo discutida e deverá ser distribuída até fevereiro de 2012.
Segundo a coordenadora Especial de Diversidade Sexual, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, Walquíria La Roche, a iniciativa do governo mineiro deve contribuir para dimensionar a realidade da comunidade gay nos segmentos da administração pública estadual. “Não temos dados científicos da quantidade de servidores públicos que se declaram travestis ou transexuais. A partir desses requerimentos poderemos conhecer melhor esse universo”, disse.

Programa oferece tratamento cidadão a travestis e transexuais da região
Um programa iniciado na cidade em 2006 pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) oferece tratamento semelhante a travestis e transexuais da região.
O programa “Em cima do salto: saúde, educação e cidadania” atende semanalmente, em média, 40 travestis e transexuais. Segundo a coordenadora técnica, Rita Martins Godoy Rocha, as atividades são desenvolvidas nos três pilares da formação humana: a sociológica, a psicológica e a fisiológica. Durante os atendimentos, o assistido é tratado pelo nome social.
“É um processo que vem ganhando peso. Com a iniciativa do Estado, espera-se que outros órgãos públicos e até mesmo privados sejam estimulados a compartilhar da opinião. Isso facilitaria a inclusão e o desenvolvimento desse público”. Quem quiser saber mais sobre o programa, é só entrar em contato com a UFU.


OMS: Directrizes para Apoio a Homossexuais e Transexuais

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Na terça-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu “as primeiras directrizes globais de saúde pública” dirigidas a transexuais e a homens com relações homossexuais (MSM). As 21 recomendações da OMS foram desenvolvidas para ajudar os prestadores de cuidados de saúde e legisladores a ultrapassarem o problema da discriminação contra a homossexualidade e a conseguirem fornecer tratamentos, aconselhamento e testes de detecção às comunidades LGBT
“Esta é a primeira vez que a OMS, como agência pertencente à ONU e contando com várias parcerias, consegue avançar com este projecto” afirma o Dr. Gottfried Hirnschall, director do departamento de VIH/SIDA na OMS. “É um tema sensível mas as directrizes vão directo ao assunto e eram vitais para a gestão da epidemia.”
O relatório divulga a criminalização da actividade homossexual em mais de 75 países. E falta reconhecimento legal da situação dos transexuais na maioria dos países.
Nos países ocidentais em particular, as infecções por VIH em MSM e transexuais estão a regressar. A probabilidade de serem seropositivos é 20 vezes superior nos homossexuais masculinos do que nos heterossexuais e estas taxas são ainda mais elevadas no México, Tailândia e Zâmbia. Dependendo do país, as taxas de infecção por VIH em transexuais variam entre os oito e os 68 por cento.
De acordo com George Ayala, director-executivo do Global Forum on MSM and HIV sediado em São Francisco, “é difícil responder até mesmo com a melhor das intervenções à disposição quando as pessoas correm o risco de violência, ridicularização ou outras formas de humilhação no momento em que recorrem aos serviços de apoio.”
Para aceder ao relatório complete visite www.who.int/hiv/pub/guidelines/msm_guidelines2011/en/index.html.
Tradução / Edição: Catarina Pinheiro/AidsPortugal

sábado, 17 de março de 2012

Homem Vs Mulher


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      Qual o significado dessas duas palavras tão complexas e ao mesmo tempo distintas, quanto a sua grafia e modo de ser? O que define o ser como pertencente ao sexo masculino ou feminino? Será a sua imagem física que todos podem ver, e que o mesmo se identifica?, ou o órgão sexual que este carrega?, talvez a sua carga genética? ou ainda a palavra de homens transcritas num livro intitulado de a "A Bíblia Sagrada de Deus"?
      Até que ponto somos e compreendemos o que somos? Será que realmente me conheço no integro, antes de pré-julgar situações, ações e sentimentos? Questões como estas estão sim sendo debatidas nesses últimos anos com forte apelo de massa, questões que envolvem humanização, porém tem se mostrado ineficazes. E sabem qual a resposta para este questionamento? Somos bombardeados com tanta informação diariamente, mais  esta vasta gama de informações não basta, já que somos educados para não desenvolver uma mentalidade reflexiva sobre temas variados, não envolvendo só a transexualidade, mais sim outras várias mazelas sociais. É como se tudo fosse preparado, industrializado na medida certa de porções individuais e embalado no enfeite mais chamativo, fazendo de nós consumidores finais marionetes em suas mãos, não nos preocupando com a procedência, apenas consumimos.
     Gostaria de melhor compreender o do por que, casais de homossexuais não podem demonstrar o que sentem para o mundo sem sofrer represália, e fazendo um contraste, por que é que mulheres homossexuais são bem mais toleradas pela sociedade, permitindo que até um beijo, seja melhor acolhido pela sociedade, atenta a um capitulo de telenovela. Adoraria entender por que não nos retratam como mulheres normais, batalhadoras, cultas e dignas, que correm atrás de seus sonhos como qualquer outra pessoa deste mundo, e sim sempre somos marginalizadas, rotuladas e ridicularizadas, do mesmo modo que temos pessoas heterossexuais mal caráter, temos também transexuais, que fazem o mundo girar com suas forças. E como se não bastasse somos obrigadas a aceitar a nos vender, para sustento próprio, só por que não nos enquadramos no padrão hipócrita humano de ser.
Se fôssemos animais racionais como muitos filósofos dizem, de fato não seriamos tão irracionais assim e agiríamos menos por impulso, a algo que nos remete ao arcaico, ao velho mundo, a idade média, onde a automatismo reinava como ordem maior vinda dos mais experientes.
Estamos todos tão mal instruídos, tão mal alimentados de pensamentos humanistas, que chego a ser pessimista, o mundo esta ficando cada vez mais obscuro, quase não vejo no outro a minha imagem. Realmente, na idade média morriam milhares de pessoas do que hoje em grandes guerras, mais o ponto alge é nos tempos de hoje matasse gente com a violência do silêncio e desrespeito ao próximo.
Quando olho para um espelho e não encontro traços que me remetem a minha real personalidade, e me questiono, de quem seria a culpa?, não procuro respostas, por que essa indagação é retórica. Mais uma vez digo, não é facial ser uma transexual e assumir para si e para o mundo quem somos ou buscamos ser. A fase de transição nos deixa frágil, nos fere, por que não sabemos se os resultados serão os mesmo que o esperado, a vontade de deixar este mundo que te assombra todas as noites mal dormidas, e quando pedimos a Deus que nos transforme em mulheres por um dia ou o tempo que seja possível, é por que o desespero já deixou de ter esperanças.
Este pequeno texto é uma reflexão a todos que ainda não desenvolveram a capacidade de enxergar o outro lado da face, ou ainda não despertaram a curiosidade, e nos fazem sofrer ainda mais quando nos olham com olhares de indignação e tortos na rua, sem entender o por que agimos assim. Somos filhos e filhas como todos vocês, nos respeitem por isso. Obrigada!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sugestões de Clínicas e Profissionais Voltados Para Terapia de Transtorno de Genêro

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Olá, Boa tarde novamente!

Bom, estive eu de novo pesquisando, e sei que esta é a dúvida de muitas transexuais femininos tanto masculino, sobre quais são os locais que oferecem atendimento multidisciplinar e especializado a terapia para transtorno de gênero, e o mais interessante que temos o SUS envolvido, o que quer disser que este tratamento é gratuito, e o próprio governo dispõe disto para muitas de nós, este é um direito seu. Procure saber na secretaria de saúde de seu município o que deve ser feito para você realizar este tratamento, ou caso não resolva, procure a um promotor de sua cidade, para entrar com as ações devidas.

Aí estão os locais, endereços e telefones:


Sugestões de clínicas e profissionais

(!) Transexual: se você for atendido em caráter público ou particular, mande-nos um e-mail em siteftmbrasil@gmail.com para incorporarmos os profissionais, contatos e serviços à nossa lista.

* Em ordem alfabética, dividido por município:
Alto Alegre (RR)Unidade Móvel de Saúde
Av. 1º de Julho, nº 499 – Centro, Alto Alegre, RR.
Belo Horizonte (MG)Ambulatório de Urologia – Hospital das Clínicas da UFMG
Av. Alfredo Balena - Belo Horizonte, MG. CEP: 30130-100
(31) 3409-9355 / (31) 3248-9300
Brasília (DF)Programa Transexuais do HUB – Hospital Universitário de Brasília – UnB
Av. L - 2 Norte - Quadra 605 – Brasília, DF. CEP: 70732-500
http://www.unb.br/servicos/unb/saude.php
Caraúbas (RN)Hospital Regional Dr. Aguinaldo Pereira
Aparicio Carlos Fernandes, 299 – Bairro Sebastião Maltez, Carúbas, RN. CEP: 59780-000.
Fortaleza (CE)Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM)
Rua Vicente Nobre Macêdo, s/n. Bairro Messejana, Fortaleza, CE. CEP: 60841-110.
(85) 3101-4348 / (85) 3101-4328
Goiânia (GO)Projeto Transexualismo – Hospital das Clínicas de Goiânia – UFG
1ª Avenida s/n - Praça Universitária, Setor Universitário - Goiânia, GO. CEP: 74605-220
dramariluza@hotmail.com
http://www.hc.ufg.br/
Montes Claros (MG)Hospital Universitário Clemente de Faria
Av. Cula Mangabeira, 562 – Bairro Santo Expedito, Montes Claros, MG. CEP: 39401-002.
Porto Alegre (RS)Protig – Serviço de Psiquiatria – Hospital das Clínicas de Porto Alegre – UFRGS
Ramiro Barcelos, 2350 - Porto Alegre, RS. CEP: 90035-003
(51) 3201-8294
mlupo@pro.via-rs.com.br
http://www.ufrgs.br/psiq/spsiq001.html

Centro de Saúde Vila dos Comerciários
Rua Moab Caldas, 400 – Bairro Santa Tereza, Porto Alegre, RS. CEP: 90850-530.
Rio de Janeiro (RJ)Ambulatório de Endocrinologia Especial (Transtorno de Identidade de Gênero) – Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE)
Rua Moncorvo Filho, 90 - Centro, Rio de Janeiro, RJ. CEP:20211-340
(21) 2299-9285
janelsms@terra.com.br

Unidade de Urologia Reconstrutora Genital – Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) – UERJ
Av. 28 de setembro, 77, 5º andar - Bairro Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20550-900
(21) 2587-6222
pguro@uerj.br

Programa de Atendimento a Transexuais e Cirurgia de Transgenitalização – Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ
Av. Prof. Rodolpho Paulo Rocco, 255 - Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21941-913
(21) 2562-2601
szaidhaft@hucff.ufrj.br
São José do Rio Preto (SP)Transexualidade - Serviço de Urologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto - Faculdade de Medicina e Hospital de Base
Av. Brigadeiro Faria Lima, 5416 - São José do Rio Preto, SP. CEP: 15090-000
(17) 3201-5000 / (17) 3201-5700
carlcury@terra.com.br

Ambulatório de Saúde T - UBS Vetorazzo - Unidade Básica de Saúde Dr. Domingo Marcolino Braile
Avenida Fortunato Ernesto Vetorazzo, 711, Jardim Vetorazzo
(17) 3236-7615 / (17) 3219-4171
smsh.vetorazzo@empro.com.br
São Paulo (SP)ProSex – Instituto de Psiquiatria – Hospital das Clínicas de São Paulo – Usp
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 255, Cerqueira - São Paulo, SP. CEP: 05403-000
(11) 3069-6284 / (11) 3069-6267 / (11) 3069-6576
alesaadeh@yahoo.com.br
http://www.hcnet.usp.br/ipq/prosex/index.htm

Ambulatório de Saúde Integral de Travestis e Transexuais – Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS (funciona em convênio com o HC-Usp)
Rua Santa Cruz, nº 81 – Vila Mariana
(11) 5087-9831
Uberlândia (MG)Ambulatório Saúde das Travestis e dos Transexuais – Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlância (HC-UFU)
http://www.hc.ufu.br/extranet/

Fontes:
1 – Relatório Preliminar dos Serviços que Prestam Assistência a Transexuais na Rede de Saúde Pública no Brasil. Arán et al. 2009.

(!) Profissional: se seu nome e contatos estão na lista, mas não o deseja, mande-nos um e-mail para retirarmos.
(!) Transexual: os profissionais aqui dispostos estão por recomendação de um transexual ou por demonstrarem publicamente interesse pela causa, não necessariamente porque são especialistas em transexualidade. Nenhum deles estaria irrestritamente obrigado a fazer o atendimento/ tratamento.


Campinas (SP)Psicologia: Dra. Maria Angélica Fonseca Soares
(19) 9783-4783 / (19) 3269-9980

Psicologia: Dra. Bárbara Dalcanale Meneses – Psicóloga e sexóloga do Centro de Referência GLTTB de Campinas
(19) 3242-7744 / 0800 7718765
bdmeneses@hotmail.com
Curitiba (PR)Cirurgia Plástica: Dr. Alexandre Wood Branco
(41) 3015-7135

Endocrinologia: Dra. Adriane Maria Rodrigues
(41) 3524-6461

Psicologia: Dr. José Antônio Garcia
(41) 3256-3871

Psicologia: Dra. Creusa Dias (São Paulo e Curitiba)
creusadias@uol.com.br
http://www.creusadias.com.br/

Psicologia: Dra. Karlesy Stamm (CRP 08/16133)
karlesy@gmail.com | (41) 9644-8019 | (41) 3252-2421
R. David Carneiro, 431 - Bairro São Francisco.
Juiz de Fora (MG)
Psicologia: Dra. Maria Cristina Brandão – Clínica Self
(32) 3115-9893
Nilópolis (RJ)Psicologia: Dra. Vilma S. P. Silva
(21) 3783-1823 / (21) 8515-0391
vilma_spc@hotmail.com
Petrópolis (RJ)Endocrinologia: Dr. André Bezerra
(24) 2231-3771

Ginecologia: Hisao Kobayashi
(24) 2231-5687

Psicologia: Dra. Maria Célia Machado
(24) 2242-4977

Psiquiatria: Dra. Celeste Rocha
(24) 9968-4626

Psicologia: Dra. Mary Oliveira
(51) 9808-7904
Rio de Janeiro (RJ)Cirurgia plástica: Dr. Altamiro da Rocha
(21) 2553-2545
http://www.altamiro.com.br/

Cirurgia plástica: Marcio Littleton (mastectomia periareolar)
dr.littleton@hotmail.com
http://www.facebook.com/marciolittleton

Endocrinologia: Dr. Eduardo Flores
(21) 2289-7446

Psicologia: Dr. Jan Robba
(21) 9695-5262

Psicologia: Dra. Vilma S. P. Silva
(21) 3783-1823 / (21) 8515-0391
vilma_spc@hotmail.com
São Paulo (SP)Departamento de Psicologia – Instituto Paulista de Sexualidade (Impasex)
Rua Traipu, 523 - São Paulo, SP. CEP: 01235-000
(11) 3662-3139 / (11) 3666-5421
inpaex@uol.com.br
http://www.inpasex.com.br/index.html

Cirurgia plástica: Dr. Jalma Jurado
Rua Carlos Augusto de Souza Lima, nº 255 - Anhangabaú (Jundiaí)
(11) 4586-4222 / (11) 4586-2765

Cirurgia plástica: Eduardo Bertolini Ramos
Rua Dr. Alceu de Campos Rodrigues, nº 229, CJ 112
(11) 3849-2993 / (11) 3848-9144
eduardo@ateneamed.com.br

Endocrinologia: Dr. Luiz Carlos Aguadé
(11) 2221-0743

Endocrinologia: Dr. Ermelindo Rubini
(11) 3288-8180

Endocrinologia: Dra. Márcia Tapai Forster
(11) 3846-1572
http://www.clinicamarciaforster.com.br/

Psicologia: Dr. Pedro Henrique
(11) 3297-7100
http://www.nucleopsicologia.org/

Psicologia: Dra. Creusa Dias (São Paulo e Curitiba)
creusadias@uol.com.br
http://www.creusadias.com.br/

Psiquiatria: Dra. Edith Modesto
(11) 3031-2106
Uberlândia (MG)Endocrinologia: Dr. José Umbelino
Av. Brasil, 1818 - Bairro Aparecida
(34) 3212-1505 - http://www.drjoseumbelino.com/default.html

Psicologia: Dra. Maria Luiza Segatto
Av. Engenheiro Diniz, 523 - Bairro Martins
(34) 3235-7311

Psiquiatria e Psicoterapia: Dr. Leandro Naves Sorna
Av. Getúlio Vargas, 275 - Sala 910 - Ed. Metropolitan - Centro
(34) 3087-8482

Cachoeirinha (RS)Advocacia: Dra. Alice Linck
alicelinckadvogada@gmail.com
http://alicelinck-advogada.spaceblog.com.br/
Curitiba (PR)Advocacia: Dra. Melina Girardi Fachin
(41) 3253-6064
Ribeirão Preto (SP)Advocacia: Caroline Gabaldo Pessoa
(16) 3235-1830 / (16) 9104-4000
Rio de Janeiro (RJ)Advocacia: Dra. Márcia Lage
(21) 2671-6915
São Paulo (SP)Advocacia: Dr. Otávio Câmara – Câmara e Câmara Advogados
Rua Darzan, 43 (Metrô Santana)
(11) 3895-6353 / 3895-6354 / 3895-6356 / 3895-6357 / 2909-3548
http://camaraecamara.blogspot.com/

Advocacia: Dra. Iara Matos
(11) 8404-5250 / (11) 6378-6380 / (11) 6705-7579 / (11) 9202-1749
http://www.facebook.com/iaramatos.taurina



Agradecimentos ao blog Transhomem Brasil.
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Artigo Científico Definindo Transexualidade Para Leigos

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Olá, boa tarde! Bom estou postando agora um artigo científico, que foi recebido pela Revista Brasileira de Endocrinologia & Metabologia no ano de 2001, mais não se importem com a data, pois o assunto ainda é atual, garanto e  com um tema bastante interessante. Talvez a linguagem seja um pouco complexa, mais garanto que vocês intenderam, alias qualquer dúvida, retirem comigo terei o prazer de pesquisar caso não saiba e retornar para vocês. Este artigo aborda e esclarece para os não leigos o que é transexualidade masculina. Espero que tirem proveito.





Transexualismo Masculino

Amanda V. Luna de Athayde
Ambulatório de Endocrinologia
Feminina, Instituto Estadual de
Diabetes de Endocrinologia Luiz
Capriglione (IEDE), Rio de Janeiro, RJ.
Recebido em 24/05/01
Aceito em 29/05/01


RESUMO
O transexualismo masculino é uma condição que exige a atuação de profissionais de diversas áreas para o diagnóstico e tratamento. De vital importância é o correto diagnóstico, uma vez que o tratamento cirúrgico é irreversível e, se incorretamente indicado, pode levar até ao suicídio. Os elementos diagnósticos são essencialmente clínicos e um período-teste de observação de dois anos é recomendado antes da realização da cirurgia. Nesse período são utilizados recursos psicoterápicos e prescrita medicação anti-androgênica e estrogênica para adequação dos caracteres sexuais secundários. No presente artigo de revisão são abordados os conceitos necessários à conduta nos casos de transexualismo, bem como as opções terapêuticas disponíveis.
Unitermos: Transexualismo; Papel de gênero; Antiandrogênios; Estrogênios.

ABSTRACT
Male transsexualism is a condition involving the cooperation of multiple specialists for diagnosis and treatment. Correct diagnosis is crucial once the surgical treatment is irreversible and if mistaken can lead to suicide. Diagnostic cues are essentially clinical and a test period of two years is recommended before surgery. During this period psychotherapy and antiandrogen and estrogen prescriptions are made to achieve secondary sexual characters adequacy. In this review article the concepts required for good practice in transsexualism are discussed as well as the therapeutic options available.
Keywords: Transsexualism; Gender role; Antiandrogen; Estrogen.


OS TERMOS ESPECÍFICOS UTILIZADOS nesta revisão encontram-se na tabela 1. O transexualismo como um fenômeno, claramente contrasta nossos entendimentos comuns sobre sexualidade (1,2), mas não é uma depravação sexual (3) e sim a forma mais extrema de distúrbio da identidade sexual (4). Também chamado de disforia de gênero (5), é uma incompatibilidade entre o sexo anatômico de um indivíduo e a sua identidade de gênero (6).


Nestes indivíduos, o desejo de pertencer ao sexo oposto é extremamente forte, procurando desesperadamente a terapia hormonal e a cirurgia, com este objetivo (7,8).
Conseqüentemente seu sofrimento é tanto e tão urgente que podem chegar ao extremo de auto-mutilação e suicídio (4).

HISTÓRICO
Desde a primeira descrição, por Esquirol (9), no século IX, a classe médica tem sido questionada sobre os aspectos médicos, legais, sociais e éticos do transexualismo.
Dr. Harry Benjamin, na década de 40, foi quem estudou os primeiros pacientes transexuais, como eles se descreviam a si próprios, sem nenhum suporte bibliográfico prévio. Sem uma terminologia adequada, na época, suas descrições precoces deste fenômeno são idênticas às atuais: reconhecimento precoce, tentativas de se vestir como o sexo oposto secretamente, a culpa, as tentativas sem sucesso de mudar seus desejos e sentimentos e tentativas de "purificações" episódicas ou contínuas.
Os pacientes encontraram em Harry Benjamin e sua equipe uma compreensão de seus problemas e um guia para alcançar as modificações que desejavam. Estes profissionais merecem nosso respeito por sua coragem em procurar uma descrição e solução para um fenômeno que, até então, não havia sido descrito e para o qual não havia qualquer tratamento (10).
Em muitos países os transexuais são tratados de acordo com os Padrões de Cuidados (Standards of Care) da Associação Internacional de Disforia de Gênero Harry Benjamin. O principal objetivo destes padrões é divulgar o consenso desta organização sobre o tratamento psiquiátrico, psicológico, clínico e cirúrgico das desordens de identidade do gênero (11).
Existe ainda a Escala de Orientação Sexual de Dr. Harry Benjamin que ilustra seis categorias diferentes da Síndrome Travestismo-Transexualismo, ajudando profissionais e pacientes a pensar sobre seu verdadeiro diagnóstico.
Desde as décadas passadas os status cultural e social dos transexuais têm mudado, em alguns países, consideravelmente. Em muito deles, possuem organizações próprias, obtiveram direitos legais e acesso a planos de saúde. A atitude dos profissionais de saúde também tem mudado muito (12), o que, infelizmente, ainda não é o caso do Brasil.

NOMENCLATURA
O termo Transexual surgiu do uso profissional e leigo, na década de 50 para designar uma pessoa que aspirasse realmente viver no gender role anatomicamente contrário, independente do uso de hormônios e de mudanças cirúrgicas. Durante as décadas de 60 e 70, os clínicos começaram a usar o termo "Verdadeiro Transexual" para designar aqueles que comprovadamente viveriam melhor após um curso terapêutico que culminaria com a cirurgia genital. Finalmente o termo "síndrome de disforia de gênero" foi adotado para designar a presença de um distúrbio de gênero.
O diagnóstico de transexualismo foi introduzido no DSM-III (Manual Diagnóstico e estatístico das Desordens Mentais) em 1980, para os indivíduos com gênero disfórico que demonstrassem durante, pelo menos, dois anos, um interesse contínuo em transformar o sexo do seu corpo e o status do seu gênero social.
Em 1994, o DSM-IV trocou o termo Transexualismo por Desordem da Identidade de Gênero, que também pode ser encontrado no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças).
Entre a publicação do DSM-III e o DSM-IV, o termo Transgênero passou a ser usado em referência a pessoas com identidade de gênero não comuns, de qualquer tipo. Este termo não significa um diagnóstico formal, mas muitos profissionais e leigos o acharam mais fácil (11).
Por esta mesma facilidade, empregaremos o termo Transexualismo, neste texto.

O TRANSEXUALISMO É UMA DESORDEM MENTAL?
Para ser classificado como desordem mental, um tipo de comportamento deve resultar em uma grande desvantagem de adaptação para uma pessoa ou causar um enorme sofrimento mental. A designação da desordem de identidade de gênero como desordem mental não autoriza a estigmatização e nem a privação dos direitos civis dos pacientes. O uso de um diagnóstico formal é sempre importante para se oferecer ajuda, promover cobertura de planos de saúde e pesquisas para oferecer tratamentos futuros mais efetivos (11).

ASSOCIAÇÃO COM DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS
Em relação ao psiquismo, entre os transexuais podemos encontrar variações, desde psicoses até a total normalidade, exceto pelas conotações associadas ao seu problema propriamente dito, sendo, no entanto, importante usar as recomendações do DSM-IV, para o diagnóstico correto (13,14).
Mesmos nos psicóticos ou altamente neuróticos, uma vez estabelecido o diagnóstico, o tratamento, segundo a maioria dos autores, não os piora e muitas vezes os melhora, principalmente quando o acompanhamento psiquiátrico é mantido (6).
Entre os vários trabalhos comprovando que o transexualismo é usualmente um diagnóstico isolado e não parte de uma doença psicopatológica maior, selecionamos o de Cole e cols., que estudaram 435 transexuais, 318 Masculinos para Femininos (M > F) e 117 Femininos para Masculinos (F > M), dois terços durante o uso de hormônios para mudar seus caracteres sexuais secundários. Um quarto destes tinham tido problemas com abuso de substâncias antes de entrarem no tratamento e menos 10% evidenciou problemas de doença mental, mutilação genital e tentativas de suicídios (6).

PREVALÊNCIA
Não é uma condição comum, mas sua prevalência sofre grande variação, como de 1 em 50.000 para 1 em 100.000 pessoas (9), podendo, os estudos epidemiológicos que reportam uma freqüência maior, serem influenciados por erro de diagnóstico diferencial. Os dados dos estudos mais antigos apontam, para o transexualismo no adulto, 1 em 37.000 homens e 1 em 107.000 mulheres e, atualmente, o mais recente, da Holanda, 1 em 11.900 homens e 1 em 30.400 mulheres (11).
Há predominância no sexo biológico masculino, embora nas mulheres o desempenho do papel do gênero seja mais exagerado (15), a não ser na Alemanha, cuja relação homem/mulher, era 1/1 em 1997, num número total estimado de 2.000-4.000 transexuais (12). Outro estudo, na Escócia, em 1999, mostrou uma prevalência de 8,18 em 100.000, com uma relação homem/mulher igual a 4/1 (16). Em crianças, num levantamento em uma clínica psiquiátrica canadense, de 1978 a 1995, encontraram-se 275 transexuais, com uma relação meninos/meninas igual a 6,1/1 (15).

DIAGNÓSTICO
O diagnóstico merece extremo cuidado, pois um erro pode ter conotações trágicas. Como a etiologia ainda é controversa, não existe um marcador biológico e apenas o critério clínico pode ser utilizado (9).
Os principais diagnósticos diferenciais são: homossexualismo, travestismo, início precoce de desordens da personalidade, crises da adolescência, disforia de gênero induzida, desordens intersexuais e psicoses (12). Os principais elementos para o diagnóstico são enumerados a seguir.
História sexual e social, determinando como e quando o seu desejo de pertencer ao sexo oposto apareceu, analisando-se ano a ano, até os dias atuais. A entrevista com familiares quase nunca acrescenta nada, exceto em crianças, pois, geralmente, estão alheios ou contra a situação, principalmente no nosso meio cultural.
Geralmente encontram-se os indicadores diagnósticos muito cedo, até mesmo antes de suas memórias mais precoces. Algumas vezes, estes indicadores podem aparecer mais tarde, como na época da puberdade, por exemplo, ou logo antes, mas nestes casos, deve-se ficar mais atento ainda para o diagnóstico diferencial de travestismo. Estas manifestações nem sempre são muito claras como: "Eu sempre me senti diferente, mas eu não sabia como!", ou "Eu sabia que não gostava de fazer coisas que os garotos da minha idade gostavam!".
A freqüência de masturbações é baixa, porque têm extrema antipatia pelo seu órgão genital, preferindo não tocá-lo. Se o fazem geralmente assumem atitudes e manipulações femininas.
As relações heterossexuais são praticamente inexistentes. Em relação às mulheres transexuais existem algumas diferenças, como, por exemplo: não existem mulheres travestis. Ou são ou não são transexuais. Outra diferença é que as mulheres, transexuais ou não, têm sempre pequena freqüência de masturbações, de modo que é arriscado usar isto como um indicador de que evitariam seus órgãos genitais.
Impulso sexual: é muito baixo nos transexuais, diferentemente dos travestis.

ETIOLOGIA
As possíveis causas das desordens de identidade de gênero podem ser subdivididas em genética, hormonal pré-natal, social pós-natal e determinantes hormonais pós-puberais, embora uma etiologia definitiva não possa ainda ser estabelecida (8). Sem um marcador biológico, a síndrome tem sido definida apenas por critérios clínicos (9).
Atualmente apontam-se também algumas diferenças anatômicas cerebrais entre transexuais e não transexuais e ainda alguns fatores de "criação" têm sido associados.
A hipótese mais aceita é de que se trata de uma diferenciação sexual prejudicada a nível cerebral (17). Anomalias funcionais ou morfológicas que interfiram na ação dos androgênios a nível cerebral podem ser responsáveis pela dissociação radical entre o sexo psicológico, gonadal, hormonal e fenotípico no transexualismo. Fatores hormonais (hormônios gonadais ou adrenais, receptores hormonais, mecanismo de transdução dos sinais hormonais, neurosteróides, neurotransmissores etc) desempenham um papel importante na formação da identidade de gênero (18).
Zhou e cols (19) mostram que o volume da subdivisão central do leito do núcleo da stria terminalis (BSTc), área essencial para o comportamento sexual, é maior em homens que em mulheres. O mesmo volume feminino é encontrado em transexuais. O tamanho do BSTc, segundo estes autores, não é influenciado pelos hormônios na vida adulta e é independente da orientação sexual. Este trabalho mostra uma estrutura feminina cerebral em transexuais geneticamente masculinos e fortalece a hipótese de que a identidade de gênero se desenvolve como resultado de uma interação entre o cérebro em desenvolvimento e os hormônios sexuais. Outros autores acham, entretanto, que, mais do que causa, estas alterações seriam efeitos do meio hormonal na vida adulta, concluindo que o dimorfismo sexual no cérebro adulto seria causado unicamente pelos esteróides sexuais circulantes (20,21). Por outro lado, o trabalho de Zhou e cols tem recebido confirmações de vários outros, sendo o mais atual o de Kruijver e cols (22).
Embora tenha sido descrita diversidade de dermatoglifos, assim como da assimetria cerebral, de acordo com os níveis de hormônios pré-natais, estudos recentes não lograram estabelecer uma associação entre essa diversidade e o transexualismo (23).
Green (24), estudando 10 grupos de familiares com problemas de gênero, encontrou associações familiares para casos de transexualismo e de transexualismo com travestismo. Para transexuais: um grupo de gêmeos monozigóticos, três grupos de irmãos, um grupo de irmã e irmão, um grupo de irmãs, um grupo de pai e filho; para transexuais e travestis: um pai transexual com um filho travesti, um pai travesti com um filho travesti e um pai travesti e uma filha transexual. Poderiam, então, as novas técnicas de estudos genéticos contribuir para a identificação de um marcador diagnóstico desta síndrome?
Geralmente a visão psicanalítica do transexualismo varia entre várias teorias. Entre elas encontramos conceito de desordem narcísica, na qual a constituição do self encontra-se profundamente prejudicada (25), até de que se trata de manifestação de uma aversão à homossexualidade. Conseqüentemente a única maneira de um homem, por exemplo, poder fazer sexo com outro homem, sem culpa, seria através modificação hormonal e cirúrgica do seu corpo.

EQUIPE TERAPÊUTICA
A equipe terapêutica deve ser multidisciplinar, composta de psiquiatras, psicólogos, endocrinologistas, ginecologistas e cirurgiões (8,11).
A não ser que o terapeuta seja um especialista sobre este problema, em toda a sua vida profissional, vê, no máximo, 2 a 3 casos de transexualismo. Por isto seus próprios preconceitos e resistências não são bem trabalhados, o que é mau para si próprio e para os pacientes. Os profissionais da equipe precisam ter experiência e a "mente aberta" para que sejam bem sucedidos.
O paciente deve ser recebido numa atmosfera de simpatia, compreensão, saber que é um ser humano, que precisa ser ouvido, ajudado e não julgado. Uma das principais queixas destes pacientes é que têm a impressão de que os profissionais os olham como um ser esquisito e que ficam extremamente desconfortáveis quando falam sobre seu desejo de submeter-se a uma cirurgia radical.
Os transexuais têm que sentir que se compreende a sua urgência cirúrgica, não como algo leviano, mas como um desejo genuíno de transformação em alguém que sempre quiseram ser. O objetivo é criar um corpo em conformidade com a imagem auto-percebida desde a sua memória mais remota.

TRATAMENTO
A única maneira de melhorar esta condição clínica é a troca de sexo social e genital, além de psicoterapia de apoio para evitar complicações dramáticas (9). Sem tratamento, a condição é crônica e sem remissão.

ÉPOCA DE PROCURA DE TRATAMENTO
Os transexuais masculinos geralmente procuram tratamento próximo aos 30 anos, não sendo raros indivíduos de meia idade, inclusive já tendo sido casados com mulheres e sendo pais de filhos, que referem como impedimento da procura mais precoce (26). Quanto aos transexuais femininos o fazem em torno dos 20-25 anos, sendo rara a procura na meia idade (27).
Obviamente que, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor, pois poderemos retardar o aparecimento de caracteres sexuais secundários, facilitando a aparência própria do sexo desejado, embora um erro diagnóstico nesta faixa etária seja totalmente catastrófico. Nesta fase se faz necessária uma comunicação estreita com os pais, cooperação e orientação dos mesmos, assim como terapias individuais e familiares (28).
Cohen-Kettenis e cols. (29) relatam o acompanhamento por mais de 10 anos de transexuais adolescentes. O diagnóstico foi feito em duas fases, sendo a primeira diagnóstica propriamente dita e a segunda o chamado período teste. Para os adolescentes com disforia de gênero não transexuais foram oferecidas psicoterapia e intervenções psiquiátricas. Para os transexuais, a terapia hormonal, que consistia na administração de dois tipos de hormônios: o primeiro para parar o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários próprios do sexo biológico, geralmente o análogo do LH-RH (LH-RHa) (30) e o segundo, após algum tempo de uso do primeiro, durante o qual se intensificava a avaliação clínica, para o desenvolvimento dos caracteres do sexo desejado. A cirurgia, nestes casos, não difere da do adulto, mas a idade mínima é de 18 anos, segundo a maioria dos autores (31,11). Um erro diagnóstico, nesta fase, acarreta conseqüências mais catastróficas ainda mas, se a indicação for correta, os resultados são melhores que nos adultos.

PSICOTERAPIA
A psicoterapia é adequada para os transexuais, para ajudá-los a conviver com as pessoas que os cercam, para terem uma visão mais realista do tratamento cirúrgico a que se submeterão e para encarar sua vida futura após a cirurgia, pois a maioria deles a vê como uma "panacéia mágica", achando que todo o mundo mudará após a mesma (32).
Dentre as técnicas psicoterápicas, a psicanalítica, a comportamental e a cognitiva raramente são recomendadas (33). Não podemos pensar, neste tratamento, em termos de mudar seu desejo de troca de sexo. Isto dificilmente acontecerá. Geralmente encontramos muita resistência nestes pacientes a falarem sobre seus problemas, devido a inúmeras rejeições sofridas, freqüentemente de profissionais (34).
Como a psicoterapia não alterará a profunda incongruência entre o sexo biológico objetivo e a identidade de gênero subjetiva de um transexual, o tratamento hormonal e cirúrgico para mudar o corpo em direção ao sexo desejado são as únicas soluções para este dilema.

CIRURGIA
O transexualismo é uma total inversão de identidade de gênero e o objetivo é a mudança de toda a maneira de viver, com todas as conotações sociais, muito além do que uma transformação cirúrgica possa oferecer.
Os transexuais, algumas vezes, dizem que a cirurgia não tem como objetivo principal uma vida sexual ativa, mas sim igualar a aparência de seu corpo com a sua imagem interna do mesmo. De forma parentética, alguns, para fins profissionais ou práticos, continuam a se vestir como homem, mas aliviados, pois seus corpos, agora, casam com sua imagem interna de si próprios. No extremo oposto, encontramos aqueles que têm como objetivo principal uma vida sexual ativa e até a adoção de uma criança.
Antes da indicação cirúrgica é necessário forte indício diagnóstico de verdadeiro transexualismo, além de julgamento do risco versus benefício da mesma.
Antes da cirurgia, na maioria dos centros de tratamento, exige-se que o transexual viva por um longo tempo, geralmente de 1,5 a 2 anos, no papel inverso do seu sexo biológico, como um período de teste (35).
Durante este período, são submetidos a medicação hormonal, aconselhados a se vestirem totalmente de acordo com o sexo desejado, enfim, vivendo totalmente de acordo com sua suposta identidade de gênero. Isto é importantíssimo, pois gradualmente adquirem conforto e espontaneidade em seu novo papel. Vivem momentos bons ou maus, ao mesmo tempo que têm um feedback de como as pessoas reagem a isto, uma vez que, na maioria das vezes, sua convicção pessoal não está muito firme de que se sentirão bem após a cirurgia. Pacientes bem preparados durante este período, geralmente, tornam-se bem integrados socialmente depois da correção cirúrgica.
Este período é importantíssimo para a indicação cirúrgica, que só é feita após toda a equipe concordar com a mesma (36).
Para uma minoria de profissionais, o fato de se vestirem como o sexo oposto é suficiente, mas os verdadeiros transexuais têm horror às suas características sexuais secundárias próprias de seu sexo biológico, não se satisfazendo com uma simples castração, mas exigindo a criação de uma neo-vagina, como prova definitiva de que estão de acordo com sua imagem interna.
Para os verdadeiros transexuais a sensação no pós-operatório é de que se livraram de uma imensa carga e que, agora, podem realmente viver sua nova vida.
Várias técnicas cirúrgicas são utilizadas, não apenas procurando atingir o objetivo estético, mas também funcional da genitália, tentando preservar a capacidade destes indivíduos de atingirem o orgasmo (37,38).
Além da cirurgia para a troca de sexo, outros procedimentos cirúrgicos podem se fazer necessários como a rinoplastia (39), por exemplo, para que se adquira uma face mais feminina. Também pode ser necessária uma fonocirurgia (40,41) para afinar a voz, e mamoplastia, para aumentar as mamas (42,43).
A maioria dos estudos mostra grande melhora subjetiva em 2/3 dos pacientes que se submetem à cirurgia e hormonioterapia, com diminuição dos índices de suicídios e descompensação psicótica.

SEGUIMENTO PÓS-CIRÚRGICO
Landen e cols. (44) fizeram o seguimento pós-cirúrgico de transexuais aprovados para serem operados na Suécia entre 1972-92, num total de 218 indivíduos. Destes, 3,8% arrependeram-se e solicitaram retorno ao corpo do sexo biológico, o que nem sempre foi possível. Os motivos deste arrependimento foram, principalmente, dois: falta de suporte familiar ou diagnóstico incorreto de transexualismo. Isto nos ensina a necessidade do apoio familiar e dos amigos dos pacientes como pré-requisito para a cirurgia.
Outra grande lição é que não podemos abrir mão da experiência dos profissionais da Associação Internacional Harry Benjamin, que elaboraram o consenso sobre o Padrão de Cuidados destes pacientes, seguindo suas normas diagnósticas (45).

TERAPIA HORMONAL
Apenas os tratamentos hormonal e cirúrgico, com troca do sexo, satisfarão os anseios dos pacientes e melhorará sua condição mental. O tratamento hormonal só pode ser prescrito após um consenso ser alcançado em relação a uma forte suspeita diagnóstica de transexualismo e sob supervisão médica (3). É iniciado no chamado período teste, em que o paciente nos chega do psiquiatra, onde obteve anteriormente uma série de dados que o levaram a suspeitar fortemente de transexualismo.
Focalizaremos aqui apenas os transexuais masculinos. Nestes casos lançaremos mãos de um anti-androgênio, que irá diminuir as características masculinas. Mais freqüentemente, entretanto, os pacientes chegam a um centro especializado para tratamento já em uso de auto-medicação. Outro hormônio a ser utilizado é o estrogênio. Devemos estabelecer a via de administração e as doses adequadas para evitar os efeitos colaterais e as complicações, obtendo o melhor resultado terapêutico.
Antiandrogênios: Flutamida, 750mg/dia, via oral. O emprego desta substância nos parece inadequado, pois além da sua hepatotoxicidade, não bloqueia a secreção das gonadotrofinas e, conseqüentemente, dos androgênios (46). Acetato de ciproterona, 50-100mg/dia, via oral. É o mais usado atualmente, pois além da sua ação antiandrogênica, bloqueia as gonadotrofinas e conseqüentemente a produção de androgênios gonadais.
Estrogênios: Etinil-estradiol, 0,1mg via oral/dia; Valerianato de Estradiol: 1 a 2mg via oral/dia; Estrogênios Eqüinos Conjugados: 0,625 a 1,25mg via oral/dia; 17ß- Estradiol: 1 a 2mg via oral/dia; 17ß-estradiol transdérmico: 50 a 100mcg/dia, em sistemas de liberação prolongada, substituídos a cada 3 ou 5 dias; 17ßestradiol Pellets: 20 a 25mg, via subcutânea a cada 2-6 meses; 17ß-estradiol percutâneo: 0,5 a 3mg/dia.Doses altas de etinil estradiol diminuem a produção de androgênios adrenais em 27 a 48% (47).
Estrogênios via oral, mas não os transdérmicos, diminuem a glicosilação da alfa 1- glicoproteína ácida, efeito contrário ao da inflamação. Isto pode ser minimizado pelos progestágenos, como o acetato de ciproterona (48).
Os estrogênios aumentam a densidade mineral óssea significativamente e diminuem oturnover ósseo (49). Diminuem o volume prostático, juntamente com o acetato de ciproterona, o que é importante para o sucesso da futura cirurgia (50). Melhoram a função vascular, a despeito do aumento de triglicerídeos (51). Em combinação com antiandrogênios, aumentam os níveis séricos de leptina, independentemente de alteração de gordura corporal (52). Diminuem homocisteína plasmática total (53). Aumentam o depósito de gordura subcutânea, diminuem significativamente o depósito de gordura visceral (54).
Além disso, os estrogênios, juntamente com antiandrogênio progestacional, provocam alterações histológicas das mamas semelhante às femininas, ocorrendo desenvolvimento lobular e acinar completo e modificações pseudolactacionais. Já se observou metaplasia apócrina em alguns casos, mas apenas 4 casos de câncer de mama foram até então documentados (55).
Ainda associados com o acetato de ciproterona, afetam o comprimento e diâmetro do pêlos em diferentes graus. Na ausência virtual de androgênios, o crescimento dos pêlos continua, mas em menor velocidade (56).

COMPLICAÇÕES
A incidência de hiperprolactinemia é grande, algumas vezes acompanhada de galactorréia, que nem sempre é resultado da mesma, mas sim pela estimulação dos nervos intercostais pela presença de implante mamário (43).
O etinil-estradiol via oral em homens saudáveis pode induzir resistência insulínica (57).
Também podem ocorrer fenômenos tromboembólicos dependendo da dose, tipo e via de administração dos estrogênios (2) e isquemia cerebrovascular (58). Van Kesteren e cols. (59) recomendam a administração transdérmica dos estrogênios, principalmente em pacientes com mais de 40 anos, para evitar o tromboembolismo venoso, observado ocasionalmente com a administração oral.
Becerra e cols. (60) observaram elevação das enzimas hepáticas, principalmente na automedicação.

A EXPERIÊNCIA DA AUTORA
No Ambulatório de Endocrinologia Feminina do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE), Rio de Janeiro, estamos realizando, desde 1999, o tratamento de transexuais masculinos, juntamente com psiquiatras da UFRJ, com o respaldo do Conselho Federal de Medicina (resolução n.º 1482 de 10 de setembro de 1997).
Acompanhamos atualmente um total de 15 pacientes, que estão iniciando seu período teste. Estamos procurando estabelecer um protocolo, em termos de exames basais, acompanhamento pela equipe multiprofissional e controle de terapia de reposição hormonal, o que nem sempre é possível, devido ao fato de que a maioria chega ao ambulatório já em uso de hormônios por conta própria. Algumas vezes nos procuram, já operados por profissionais não capacitados, o que lhes tira qualquer possibilidade de funcionalidade genital.
Ainda não encaminhamos nenhum paciente para cirurgia, uma vez que nenhum completou o período teste de dois anos.

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Endereço para correspondência:
Amanda Valéria Luna de Athayde 
Av. N. S. Copacabana 1183/504 
22.070-010 Copacabana, RJ 
Fax: (021) 521-8285